quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cemitério: casa dos mortos ou ameaça aos vivos? – Alberto Rostand Lanverly - Por O Jornal Alagoas - 06.04.2011

O acidente e o homem convivem, de forma muito próxima, desde os primórdios da humanidade. Exemplos diversos comprovam que até em ambientes aparentemente inofensivos é possível contrair doenças que, posteriormente, se transformam em “companheiras desagradáveis” para quem teima em não neutralizar a situação crítica no nascedouro.


Os tempos modernos têm desnudado à sociedade situações desconhecidas décadas atrás. São doenças com nomes estranhos que, após fazerem milhares de vítimas em todo o planeta, vão, aos poucos, sendo conhecidas em sua estrutura mais profunda e, posteriormente, neutralizadas devido à descoberta de vacinas. É a habilidade dos cientistas, em sua busca incansável para “monitorar” o desconhecido.

Dias atrás, lendo a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, encantei-me com o conteúdo do artigo publicado pelo ilustre médico de nossa terra, dr. Pedro Bernardo de Carvalho Filho, intitulado “Projeto Cemitério Nossa Senhora da Piedade”. No documento, disponível a todos da casa, que se caracteriza por ser um dos mais importantes guardiões da cultura de nosso Estado, o renomado profissional deixa claro que, nos dias de hoje (como nos de antigamente), até para morrer a prevenção deve ser cultuada.

É de conhecimento geral ser o corpo humano, composto por cerca de 2/3 de água, que, após a morte e sepultamento de alguém, penetra na terra. Impressionante, no mencionado documento, é o esclarecimento: “a maioria das casas, em volta dos cemitérios, apresentam uma barra de umidade de aproximadamente 20 cm, que não ocorre devido à proximidade do mar, mas dos fluidos oriundos da decomposição dos cadáveres ali enterrados. A ‘parte molhada’ nas paredes é ocasionada pela ‘putrescina’, uma molécula orgânica que se forma na carne podre, possuidora de odor característico”.

Mais adiante, o ilustre discípulo de Hipócrates afirma: “este liquido, que escorre dos corpos mortos, viscoso, escuro, torna-se um sério meio de contaminação, tanto do solo quanto do lençol freático, e, por seu alto grau de patogenicidade, se apresenta como forte agente disseminador de doenças infectocontagiosas, normalmente atribuídas às fezes de animais”.

Claro que a população do entorno dos cemitérios está exposta a variedade imensa de riscos, uma vez que, diz ainda o médico pesquisador, “é na terra onde são enterradas todas as enfermidades, medicamentos e impurezas que porventura estejam encerradas nos corpos, outrora doentes ou não, e ali depositados”.

Impressionante! Os acidentes estão até nas paredes das nossas casas, oriundos, justo, dos cemitérios, onde tudo é morte, homens e mulheres deitados eternamente. Fundamental se torna que, precavidos, possamos nos proteger das surpresas que o cotidiano nos prepara.

Sobre o autor

Alberto Rostand Lanverly
Professor

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