terça-feira, 3 de maio de 2011

Morrer é Caro em Sorocaba - Por Rede Bom Dia de Sorocaba - SP - 30.04.2011

Bater com as dez está pela hora da morte

Dependendo do tipo de caixão, localização do jazigo e serviços à parte –que podem incluir sala de velório com frigobar e micro-ondas – enterrar uma pessoa em Sorocaba pode sair por mais de R$ 20 mil.
 
A morte pode ser encarada como um fim ou uma passagem mas, inegavelmente, é um excelente negócio. Em Sorocaba um velório sofisticado, com caixão (ou urna funerária, como é chamada entre os profissionais) feito em madeira de lei e com enterro em cemitério privado pode ultrapassar os R$ 20 mil.
 

O mercado que gira em torno da morte oferece opções para todos os gostos e, principalmente, bolsos. Só no ano passado, foram 3.724 óbitos em Sorocaba. No primeiro trimestre de 2011, mais de 900.

Danilo Natálio Martins, encarregado pelo setor de funeral da Ofebas, explica que existem dois tipos distintos de pessoas que procuram uma empresa especializada para tratar sobre um velório e um enterro: aquelas que perderam alguém querido e às pressas e sob forte emoção precisam definir todos os detalhes, até aquelas que estão se antecipando e definindo os trâmites fúnebres que serão aplicados a familiares ainda vivos ou a si próprias. “Quando há uma morte confirmada as famílias costumam eleger as pessoas mais calmas para tomar as decisões, mas mesmo se tratando de uma emergência existem familiares bastante atentos a detalhes”, revela.

Danilo explica que alguns clientes fazem questão de apalpar o forro dos caixões para verificar se são fofos, ou mesmo querem informações sobre a qualidade da madeira. “O cuidado é semelhante entre clientes mais metódicos que pagam um plano funerário e estão escolhendo a própria urna”, explica.

Uma urna em cedro, revestida em cetim, com a tampa entalhada com motivos religiosos e alças em alumínio sai por pouco mais de R$ 10 mil. Escolher a urna é a ponta do iceberg e o começo dos gastos. Até na escolha da sala de velório existem opções. Em Sorocaba existem salas com micro-ondas e frigobar.

A opção visa atender famílias que têm parentes em cidades distantes que podem chegar com fome durante a madrugada, por exemplo. Pela regalia, são R$ 400 a mais.

A última impressão

Muitos gastos extras envolvendo um velório dizem respeito à preparação do corpo. A quantidade de flores, a roupa usada pelo finado, tudo é opcional e está à venda. “Se o enterro é no inverno, existem até famílias que nos solicitam roupa de frio para o cadáver. Existe esse culto ao corpo, um respeito. Há pessoas que pedem que o cadáver seja até perfumado”, afirma o preparador de cadáveres, Francisco Metidieri.

O custo também aumenta se a morte é resultado de um episódio envolvendo violência. Nesse caso é aplicada a tanatopraxia, técnica na qual perfurações de tiro, cortes e outros ferimentos são ocultados através de maquiagem. A tanatopraxia também permite a conservação do corpo por mais tempo – para evitar odores inconvenientes durante velórios longos, por exemplo – graças à troca do sangue por um líquido especial. O serviço custa R$ 450 adicionais, em média.

Entenda a expressão 'Bater com as dez'

Sinônimo de morrer. Expressão do jogo de Buraco, usada para definir o lance no qual o jogador compra uma carta do monte e consegue se livrar de todas as outras nove que tem nas mãos.

Planos funerários

Os planos funerários são boa opção principalmente para aqueles que não querem ter dor de cabeça no momento da morte de um familiar. Eles disponibilizam desde a urna, até o velório e traslado até o cemitério para o titular do plano e seus dependentes.

Em Sorocaba a adesão a um plano desse tipo custa cerca de R$ 250, com parcelas mensais de cerca de R$ 20 por pessoa no plano familiar. A maioria dos planos têm 30 dias de carência, ou seja, só cobrirão as despesas se o falecimento ocorrer após o período pré-estabelecido. Segundo a Ofebas, a procura por este tipo de plano triplicou em 10 anos. Já a Ossel não se manisfestou.

Quem decide se precaver, convive com as críticas

Ao comprar um jazigo, tudo o que a dentista Giovana Senna queria era se precaver da correria e do transtorno de ter de tomar uma série de decisões quando uma pessoa querida partir. Isso ou dar trabalho a quem fica, caso ela seja “a próxima da lista”. Após fechar o negócio, no entanto, ela afirma que enfrentou críticas e até pequenos protestos movidos por familiares e amigos que não se conformam com o fato dela gastar dinheiro com uma sepultura quando ela tem 43 anos e goza de plena saúde.

“Me chamaram de tonta. Perguntam como posso gastar com isso ao invés de com uma viagem. Eu ignoro pois acho super normal pensar em algo que é inevitável”, afirma. A dentista conta que não pesquisou preços antes de comprar o jazigo de três lugares por aproximadamente R$ 3 mil. “Desde que comprei, já até tive propostas de pessoas que querem comprar em razão da boa localização dentro do cemitério.”

Visual conta

O analista de sistemas Roberval Correia diz que para definir a localização do jazigo de sua família, levou em conta o visual. “Optei por um cemitério sem túmulos, apenas com aquele gramado bonito”, ressalta. Roberval afirma que o assunto não tem nada de sinistro e, mostrando as faturas com as parcelas pagas, afirma ter feito um excelente negócio. “Na hora da dor, as empresas cobram o quanto querem porque os familiares não têm opção. Quando já pensamos nisso em vida, cotamos preços e podemos até aproveitar promoções.”

Tem de graça

Em Sorocaba há seis cemitérios, dois particulares e quatro municipais. No PAX, um jazigo para três pessoas custa à vista R$ 4,7 mil para sepultamento imediato. Se a compra for feita sem que haja falecimento, o parcelamento pode ser feito em 24 vezes e o valor cai para R$ 4,9 mil. No Memorial Park, outro particular, um jazigo também para três lugares custa R$ 3 mil.

Dos cemitérios municipais, somente dois ainda estão disponíveis para o enterro de alguém que faleça hoje e não possua jazigo. No Cemitério de Aparecidinha a área para sepultamento custa R$ 129. Já o Cemitério Santo Antônio, no Wanel Ville, é gratuito, para famílias de baixa renda. Os cemitérios da Saudade e da Consolação tiveram seus títulos de posse negociados há décadas e só recebem corpos de famílias já proprietárias de jazigos.

Pagamento de enterro vai parar na Justiça

No começo desse ano o Colégio Recursal de Sorocaba confirmou a decisão do juiz Douglas Augusto dos Santos, da Segunda Vara do Juizado Especial Civel, que obriga dois homens a ressarcirem um primo que arcou com as despesas do enterro da mãe dos mesmos.

A vítima, que pediu para não ser identificada, conta que não era íntima dos primos, mas colaborou pagando os R$ 910 do velório e enterro com seu cartão de crédito.

O pagamento foi dividido em quatro vezes e apesar de se comprometerem em pagar as parcelas, os irmãos não honraram o compromisso. Sem dinheiro, a vítima pagou apenas os valores mínimos das faturas, sofrendo com o acúmulo de juros. A setença estipula indenização de R$ 3,8 mil, que cobre o valor original, mais os juros rotativos.

CPI das funerárias é enterrada

Foi pouco conclusivo o resultado da Comissão Parlamentar de Inquérito aberta pela Câmara de Vereadores de Sorocaba para investigar a atuação das duas funerárias da cidade, a chamada CPI das Funerárias. Isso porque a Ossel conseguiu na Justiça o direito de não enviar alguns documentos solicitados pelos vereadores. Apesar da apuração ter sido parcial, a comissão foi encerrada no começo desse ano.

O foco da CPI era investigar se as funerárias Ofebas e Ossel estão respeitando a lei municipal que prevê fornecimento de caixão, transporte, velório e enterro gratuitos a famílias que declararem não ter renda suficiente para pagar pelo serviço.

A investigação do Legislativo (os vereadores também contrataram uma empresa de auditoria para auxiliá-los) foi aberta em julho do ano passado, pouco após o vereador Irineu Toledo (PRB) ser procurado por uma família de baixa renda que alegou não ter conseguido o benefício previsto em lei.

O presidente da CPI, vereador Gervino Gonçalves (PR), o Cláudio do Sorocaba 1, alega que os documentos solicitados pelos vereadores serviriam para constatar o número de velórios, caixões e transporte cedidos pelas funerárias à famílias carentes ao longo dos anos. Na documentação enviada pela Ofebas, explica o parlamentar, não foram encontradas irregularidades. “Já a Ossel buscou na Justiça essa liminar que acabou obstruindo as atividades dos vereadores. Não sabemos o motivo do receio, o caso é que ficamos de mãos atadas e sem condições de darmos prosseguimento”, alega.

Regulamentação

Um projeto de lei do vereador Helio Godoy (PTB) visa regulamentar os serviços funerários em Sorocaba, definindo uma melhor distribuição das empresas que desempenham essa função. O projeto prevê que deva existir uma funerária para cada 100 mil habitantes. As empresas seriam escolhidas através de concessão pública.

Godoy elaborou seu projeto com base em concessões de serviços funerários feitas nas cidades de Curitiba (PR) e Joinville (SC). Nesses municípios, segundo o vereador, os serviços são operados por diversas concessionárias regulamentadas por leis municipais.

O vereador explica que antes de encaminhar o projeto para a pauta de votação ainda aguarda as respostas de alguns questionamentos feitos à prefeitura a respeito da atuação das duas empresas em operação na cidade. “O projeto já está pronto desde a metade do ano passado, mas como esperava que a CPI respondesse a muitos dos questionamentos, aguardei”, explica o autor. A previsão é de que o vereador apresente o projeto no segundo semestre.

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