domingo, 28 de junho de 2009

12º Etapa - Tour Cemiterial - Memorial Necrópole Ecumênica - Santos - 28.06.2009


Antes de mais nada, Memorial é um cemitério com conceito bem diferente da grande maioria das Necrópoles existentes a nível nacional, inclusive. É verdade que essa modalidade está sendo copiada por diversos empreendimentos por país afora, mas o pioneirismo sempre será a caracterísica do local e inclusive há possibilidades reais de expansão de área construída, área verde e de uma diversificação de opções de descanso eterno para aqueles que partiram desse plano.
Foi uma visita não muito usual, pois primeiro, foi feito pelo período da manhã; segundo, porque contou com a participação da Talita de Bello (convidada) nessa etapa; terceiro, requeremos visita monitorada para fins de precaução e quarta, fomos direto para a administração da necrópole, mais precisamente no Setor de Vendas. Então procuramos a Sandra (chefe do departamento e a pessoa com mais experiência no empreendimento como funcionária com 25 anos de casa) e ela além de ratificar a visita (com direito a fotos, inclusive), seguindo instruções a respeito e também restrições (como não tirar fotos da sala de velório no dia em que estiver ativo ou de tirar fotos de lóculos que estejam ocupados de forma direta) e então ela indicou o funcionário Paulo (com 3 anos de casa, natural de Bebedouro, mas com vida profissional em São Paulo) para nos acompanharmos a visita e nós aceitamos numa boa, pois queríamos passar credibilidade sobre a visita. Em relação aos últimos anos, a Memorial passou por mudanças profundas na sua estrutura e sua essência, mas sem perder de forma alguma sua característica funcional: sensação de bem estar mesmo num lugar que se remete à morte !!! Desde 1983, quando o empreendimento passou a ser realizado pelo argentino de origem valenciana, o Sr. José "Pepe" S. Altstut, Memorial passou por uma expansão poucas vezes vista na Região. Inicialmente, isso até 1986, possuía cerca de 5 andares concluídos (de 10, na ala original), mas devido ao número de enterros aumentando proporcionalmente à população de Santos e Região somando às péssimas condições dos cemitérios tidos como "horizontais" de gestão pública, houve uma necessidade da verticalização maior do local, passando primeiramente a ser construído de forma lateral, alas que acompanhassem o gabarito estrutural do local, que é maior do que a média em relação aos edifícios residenciais e comerciais do município. Posteriormente, devido ao aumento de procura e de pessoas enterradas lá, houve um consenso da maior expansão vertical cemiterial, com previsão de haver mais de 30 andares só de lóculos futuramente. Obviamente nada foi de graça, na verdade não é, por conta da contribuição de parentes dos entes que ali estão enterrados, mas visando a manutenção da qualidade do local e nas ampliações pelas quais almeja (inclusive, no empreendimento englobado há um cemitério para animais domésticos, a Pet Memorial, Central de Vendas e uma transformação de cinzas para diamante, mas este último para aqueles que possuem grana a rodo).
É claro que para comportar tudo isso, houve uma melhora e implementação de uma estrutura que possa ser a altura de um empreendimento de porte como o Memorial...Primeiramente, foi pensado na construção de duas salas de velório no térreo, uma Capela Ecumênica que fosse atender todas as religiões e/ou crenças (taí o nome oficial "Ecumênica") e no segundo andar, a sala nobre do velório ampla, destinada especialmente para aqueles que possuem melhor renda ou prestes a serem enterradas. Porém, isso tudo não foi suficiente pois foi construída uma lanchonete, que fosse atender as necessidades, uma remodelação paisagística com direito a fontes, remodelação para abrigar uma espécie de mini-zoológico espécies encontradas na Mata Atlântica ou no Orquidário (que está fechada para reforma no momento do post), estacionamento com uma área verde considerável, implementação de uma sala destinada ao Crematório, outra para Ossuário e outra para Cinerário (explicarei mais à frente) e o mais importante: pensando nos entes, foram implementadas suítes destinadas para pessoas próximas a pessoa falecida pernoitarem e melhora substancial na implementação de novas salas de velório com o intuito de se sentirem em um local mais aconchegante. O mesmo vale para a sala do Crematório, cuja entrada lembra e muito um local bem badalado, com direito à urnas e algumas obras de arte e no anfiteatro, destaca-se o pedestal cuja pessoa pode falar por minutos sobre o ente e o palco com o formato de um caixão há possibilidade de ver o falecido nos últimos momentos antes de passar pelo processo de cremação.
É correto afirmar que arte tumular, diversidade de lóculos (exceto alguns exemplares em que há enfeites de flores, outros com letras com efeito arqueado, entre pequenas coisas) e a criatividade no que se refere aos corredores são quesitos praticamente nulos no Memorial, entretanto, a segurança é prioridade número zero pois tem várias câmeras de segurança ao longo dos andares (no momento, 10 na primeira ala, 16 nas outras 2 alas), além da preocupação da limpeza e do zelo pelo local serem notados a olhos vistos !!! Chegando ao décimo andar, há uma escada a direito a acesso às salas de ossuário e ao cinerário...O Ossuário, todo mundo sabe o que é. A diferença é que os restos mortais em sua maioria são oriundos de outros cemitérios, isso a partir do momento em que os restos ficam somente os ossos, literalmente, depois de 3 anos da pessoa ter morrido (em média). Há uma legislação interna rígida a respeito. Quanto ao cinerário, as cinzas são depositadas em urnas dos mais diferentes tipos (livros, mini-esculturas de figuras humanas ou marinhas, em sua maioria) em alas dedicadas para essa finalidade...E uma curiosidade: não pode mais depositar cinzas no mar em Santos e São Vicente pois segundo relatos, as cinzas estariam obstruindo passagem de navios em diversas regiões de ambos os municípios, principalmente perto de Ponte Pênsil e por essa razão, há um pouco de critério mais rigoroso sobre o destino final das cinzas caso a pessoa decidir o que fará e perto da lanchonete foi construído um velário e um pouco mais acima, uma mini capela foi feita para aqueles que querem ter um momento reservado para fazer preces (seja qual crença for) e no lado de fora há um cruzeiro, só que este local poderia muito bem ter ficado na parte interna para fins de preservação maior. Um ponto fundamental: houve uma melhora estrutural no que se refere a destinação do chorume cadavérico pois foi colocado numa lateral um tanque de tratamento desse líquido fora dos limites ambientais e de locais em que haja problemas de visibilidade, assim como houve uma adaptação significativa a normas favorecendo a portadores de deficiência, de fato. Outro fator preponderante e importante é o tratamento dos funcionários ativos no local: em sua grande maioria não são de Santos e sim do Interior do Estado (um deles foi surpreendido quando citei Araras, devido ao fato de que o cemitério de lá é enorme e prontamente ele falou que era natural daquele município) ou da Grande São Paulo ou da Capital mesmo. E fiquei bem feliz por essa sinergia dessa visita pois além dos fatores que mencionei acima, houve aval de todos os funcionários presentes, inclusive o proprietário local. Depois desse relatório quilométrico, vamos a ficha:
Ficha
Nome: Memorial Necrópole Ecumênica
Local: Bairro do Marapé - Santos - SP
Implementação: 1983, ampliado e reformado nos seguintes anos: 1986, 1992, 1997, 2004 e 2006 e a previsão para a conclusão da próxima ala é para 2011 ou 2012.
Gestão: Privada
Estilo: Vertical
Pontos Fortes : Tudo o que eu mencionei ao longo do relato.
Pontos Fracos: Não sei se chega a ser um fiasco, mas o Cruzeiro poderia ter ficado muito bem na parte interna e não do lado de fora.
Nota: 9,5
Motivo: É fácil de entender o porque não leva a nota máxima por 3 fatores: 1º A problemática desse Cruzeiro, pois há risco de depredação (se alguém ligado ao Memorial ler algum dia, é uma crítica construtiva e entenderá o que estou falando), 2º Poderia se possível reservar um espaço para arte tumular para fins Históricos (sei que é utopia, mas tudo bem) e 3º poderia ser incluído para uma concepção de um cemitério-parque, o que seria um divisor de águas e um pioneirismo sem igual no Estado de São Paulo (não diria no Brasil, pois o Cemitério da Soledade, em Belém do Pará, está há anos-luz nesse estilo) e feito com critério, o Memorial poderá sim alavancar o turismo como mais uma das características singulares do empreendimento.
Agradecimento especiais a Talita de Bello, por ter estado conosco essa visita, a todos os funcionários do Memorial e em especial a todos aqueles que possuem parentes/amigos/conhecidos que descansam em paz no local.